segunda-feira, 26 de abril de 2010

Índios do Xingu temem pelo futuro com construção de Belo Monte

Belo Monte fica no Pará, a 940 quilômetros de Belém, e há mais de 30 anos está no noticiário. Tudo por causa da intenção do governo de construir ali a terceira maior hidrelétrica do mundo.

Esta semana, em meio a uma batalha judicial que ainda não acabou, o leilão para a construção da usina foi, enfim, realizado.

É na Volta Grande do Xingu que será construída uma obra gigantesca. A barragem da usina de Belo Monte vai passar exatamente num trecho do rio com muitas ilhas mais montanhosas, o que vai ajudar no represamento das águas. Só que a energia só vai ser gerada a 50 quilômetros da barragem.

A água vai ser desviada por imensos canais, de 250 metros de largura. Eles vão alimentar um lago, inundando 516 quilômetros quadrados de terra.
É de um reservatório que sairá a água para rodar as turbinas da terceira maior usina do mundo.

Só que esse desvio das águas vai reduzir a vazão em cem quilômetros do rio, quase toda a Volta Grande do Xingu. Em época das chuvas, a água avança pra dentro da mata.

Na aldeia dos índios araras da Volta Grande, no limite das fazendas, já houve miscigenação e os moradores português. Esta semana, eles ainda estavam sob o impacto da notícia do leilão que decidiu o consórcio que vai construir a usina.

É que os araras vivem bem na curva da Volta Grande do Xingu, o pedaço do rio que vai ter a vazão controlada. Depois de construída a represa, o Xingu não vai ter nem cheia, nem seca.

Vai correr sempre no mesmo nível. O que os Araras temem é que o rio seque, a água fique quente demais e mate os peixes, que são a fonte da vida na aldeia.


Fonte: TV Canal 13

Que nos sirva de exemplo

Para nós em Içara que temos dois rios como limites do município, fica aqui o exemplo do que foi realizado no Rio dos Peixes, meio-oeste catarinense.

O sucesso dessa operação só foi possível quando houve a conscientização de todos a respeito da importância do rio para a região.

O que aconteceu foi um engajamento geral da população, escolas, universidades, Prefeituras e Câmaras de Vereadores, Ministério Público, imprensa e outras forças vivas presentes nos municípios por onde o rio passa.

Seria plenamente possível realizar-se por aqui algo parecido, envolvendo tanto as comunidades ao sul de Içara, banhadas pelo Rio Araranguá, como ao norte, com as comunidades banhadas pelo Rio Urussanga.

Mas conforme vimos na reportagem anterior, isso só acontecerá com o despertar de um envolvimento total com a causa da verdadeira recuperação desses dois rios. Hoje, timidamente alguma coisa está sendo feita, o que já é um bom começo. Portanto, vamos à luta!

Enfim, Rio do Peixe está para os peixes

Sessenta profissionais monitoram o leito do gigante do Meio-Oeste


Preservar o Rio do Peixe, o maior do Meio-Oeste do Estado, é tarefa diária de pesquisadores, biólogos, químicos, veterinários e outras pessoas preocupadas com a natureza. As águas do gigante banham 14 cidades da região.

Tamanho empenho resultou em águas mais limpas e o ressurgimento de peixes em boa parte dos 293 quilômetros de extensão.

Na década de 1980, a falta de políticas ambientais, o descaso de moradores e a despreocupação de empresas privadas em manter a qualidade da água rendeu ao Rio do Peixe o título de rio morto. Pesquisadores lembram que era mais fácil encontrar um sofá boiando do que um peixe vivo.

O despertar ecológico começou quase 10 anos depois, com a intensificação da fiscalização e a aprovação de leis mais rigorosas. A preservação do rio virou assunto acadêmico e passou a orientar o trabalho de pesquisadores em escolas, universidades, comitês e ONGs.

Atualmente, conforme o coordenador do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio do Peixe, Joviles Trevisol, o assunto é preferência entre os estudantes da região.

– Depois que as pessoas passaram a se interessar pelo rio em assuntos dentro e fora da sala de aula, começou o trabalho de preservação – conta o pesquisador.


Grupo faz estudos para cobrar plano de melhoria

Manter a qualidade das águas é uma das tarefas do comitê. Participam do projeto 60 pesquisadores, que fazem expedições ao longo do rio. O objetivo é coletar dados para orientar a criação de políticas públicas que aliem o desenvolvimento à preservação ambiental.

O título de rio morto está prestes a ser esquecido, avalia o veterinário da Empresa de Extensão Rural e Pesquisa Agropecuária de Santa Catarina (Epagri) Clóvis Segalin. Em expedições, ele e outros pesquisadores descobriram a existência de 58 espécies nas águas do Rio do Peixe.

– Temos de comemorar, porque houve épocas em que não havia sequer um peixe vivo por essas águas. Além disso, o peixe é um bioindicador, o que sinaliza uma qualidade de água satisfatória.

A proibição de pescas com rede, a criação de escadas que facilitam a reprodução e a preocupação com a qualidade água são fatores que justificam o ressurgimento das espécies de peixes no principal rio do Meio-Oeste catarinense.

Apesar do avanço na despoluição da água, os especialistas alertam que ainda há muito para ser feito. O principal problema diz respeito ao saneamento básico. Das 27 cidades da Bacia Hidrográfica, somente Luzerna tem uma estação de tratamento de coleta e esgoto.

– A abundância de matéria orgânica no leito do rio é o problema mais preocupante. Não sabemos ainda precisar como a poluição prejudica o rio, mas o certo é que afeta em cadeia a biodiversidade – alerta o pesquisador Trevisol.




Francine Cadore
Diário Catarinense